Filpo Núñez entrou para a história do futebol brasileiro de forma única. Foi o último técnico estrangeiro a comandar a seleção brasileira, em um contexto muito específico e simbólico, durante a inauguração do estádio Mineirão, em 1965. A partir desse episódio, seu nome passou a integrar uma lista bastante exclusiva de treinadores não brasileiros que assumiram a Canarinho.
Apesar de sua passagem relâmpago pela seleção, a influência de Filpo no futebol nacional foi duradoura. Seu estilo ofensivo e moderno marcou época no comando da lendária Academia do Palmeiras, contribuindo para uma fase de ouro no clube e introduzindo conceitos que, anos depois, seriam explorados em outras escolas do futebol mundial.
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Primeiros passos no Brasil
Nascido em Buenos Aires em 1920, Filpo Núñez chegou ao Brasil em meados da década de 1950. Iniciou sua trajetória nacional no comando do Cruzeiro em 1955, depois passou por clubes como Athletico Paranaense, equipes do interior paulista e o Vasco da Gama. Mesmo com uma carreira marcada por repetidas mudanças de clube, Filpo conseguiu deixar sua marca em boa parte das equipes por onde passou.
Durante sua breve passagem por Portugal, ampliou seus conhecimentos táticos e voltou ao Brasil mais maduro, preparado para experimentar ideias ousadas. Seu retorno culminou no momento mais marcante de sua carreira: a temporada memorável de 1965 com o Palmeiras.
A revolução tática no Palmeiras
No comando do Palmeiras, Filpo moldou um time ofensivo, com grande mobilidade e marcação adiantada. Conhecido como a "Primeira Academia", o esquadrão alviverde encantava torcedores e críticos pelo futebol leve, rápido e vertical. Um dos diferenciais do comandante argentino foi fixar Dudu como primeiro volante e liberar Ademir da Guia para compor o setor ofensivo, aproveitando sua visão de jogo e capacidade técnica.
O auge do trabalho aconteceu no Torneio Rio-São Paulo de 1965, quando o Palmeiras balançou as redes 49 vezes em apenas 16 partidas, conquistando o título com sobras. O sucesso foi tanto que, diante da ausência do Santos de Pelé do território nacional, a equipe foi convidada a representar oficialmente a Seleção Brasileira.
Representando a seleção brasileira
No dia 7 de setembro de 1965, na inauguração do Estádio do Mineirão, a "Academia de Futebol" vestiu as cores verde e amarela da seleção brasileira para enfrentar o Uruguai em um amistoso oficial. Filpo Núñez assumiu a direção técnica daquela partida, tornando-se o primeiro e até então último estrangeiro a comandar o Brasil em campo.
O resultado reforçou a escolha: vitória por 3 a 0 contra os uruguaios. Embora tenha sido seu único compromisso como técnico da seleção, o feito se destacou na história da equipe nacional. Além disso, esse evento consolidou a imagem da equipe do Palmeiras como uma das mais talentosas e respeitadas da década.
Incompreendido, inovador e esquecido
Mesmo com ideias avançadas para sua época, Filpo Núñez enfrentou resistência no futebol brasileiro. Em sua segunda passagem pelo Cruzeiro, nos anos 1970, tentou implementar um estilo de jogo com troca constante de posições e jogadores sem funções fixas — uma versão embrionária do “Carrossel” holandês. A proposta não foi bem compreendida e lhe custou o cargo.
Após isso, seguiu sua trajetória como técnico de diversos clubes, raramente permanecendo por muito tempo em uma mesma equipe. Em 1997, assumiu o time feminino do Palmeiras, onde encerrou oficialmente a carreira, dois anos antes de falecer.
Apesar de ter contribuído significativamente para o desenvolvimento tático no Brasil, Filpo terminou seus dias longe dos holofotes. Sua história, no entanto, ganha novo relevo com a contratação de Carlo Ancelotti como novo treinador da seleção brasileira — o primeiro estrangeiro a assumir o cargo desde aquele amistoso inesquecível sob comando do argentino.
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