Nem sempre passar uma temporada inteira sem conhecer o gosto da derrota é garantia de troféu no fim. No futebol, a invencibilidade pode vir acompanhada de sabor amargo quando o título escapa por detalhes.
Casos como o do Sheriff, no Campeonato Moldavo 2024/25, mostram que permanecer invicto não basta. O clube terminou a temporada sem derrotas, mas viu outro adversário se sagrar campeão em uma campanha mais eficiente.
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O Sheriff em 2024/25: o novo exemplo da maldição invicta
O clube da Transnístria finalizou o campeonato moldavo com uma sequência impressionante de resultados positivos. Ainda assim, o título ficou com o Petrocub. A equipe rival acumulou mais vitórias, o que na pontuação fez a diferença. O Sheriff empatou demais. Ao todo, mesmo invicto, foi superado por um concorrente mais regular em conquistas de três pontos.
Essa situação chamou atenção para um dilema recorrente no futebol: campanhas tecnicamente sólidas, mas que pecam na objetividade. Uma defesa quase intransponível, poucos gols sofridos, invencibilidade intacta — e nenhuma taça ao final da temporada.
Esse cenário não é novidade. Outros clubes, em campeonatos diferentes e épocas distintas, também viveram o mesmo drama.
Athletic Bilbao 1929/30: o pioneiro da frustração
Na temporada inaugural de La Liga, os bascos terminaram a liga sem perder uma só partida. Ainda assim, o Real Madrid ficou com a taça. O motivo? O número inferior de vitórias. Mesmo com menos derrotas, o Athletic não foi campeão, em um campeonato ainda com formato embrionário.
A equipe empatou sete vezes em 18 jogos — o suficiente para ser superada pelos madrilenos, que perderam uma única vez, mas venceram mais. O regulamento favorecia a vitória, o que se mantém até hoje, e o Athletic ficou na história como o primeiro invicto sem glória da elite espanhola.
Perugia 1978/79: a defesa intransponível e o vice amargo
Mesmo com craques como Paolo Rossi e um sistema defensivo quase perfeito, o Perugia encerrou seu campeonato italiano sem sequer uma derrota. Foram 30 rodadas invicto — um feito que durou décadas até ser superado. No entanto, a campanha teve muitos empates: 19.
A Juventus, por sua vez, venceu jogos o suficiente para compensar suas três derrotas. Assim, a Vecchia Signora terminou com 48 pontos contra 41 do Perugia, sob um sistema que ainda premiava vitórias com apenas dois pontos. Essa combinação fez do Perugia o único vice-campeão invicto da história da Serie A.
Benfica 1977/78: um gigante de Portugal sem queda, mas sem copa
Comandado por um Eusébio já aposentado, o Benfica de 1977/78 foi consistente, teve o melhor ataque e a defesa menos vazada do campeonato português. Ainda assim, terminou atrás do Porto, que venceu mais jogos e teve menos empates.
A igualdade em 12 das 30 partidas foi fatal para o Benfica. O Porto, com um estilo mais ofensivo e incisivo, levou vantagem no total de pontos. O episódio marcou pela raridade: o clube da Luz passou a temporada invicto nacionalmente, mas não levantou o troféu da liga.
Sparta Praga 2009/10: zero derrotas, zero título
O Sparta dominou o campeonato tcheco daquela temporada em desempenho defensivo e solidez tática. No entanto, 12 empates em 30 jogos foram o bastante para um segundo lugar. O vice veio mesmo com nenhuma derrota, porque o Baník Ostrava venceu mais uma partida e empatou menos.
A situação do Sparta mostra como a busca exagerada pelo controle pode custar caro. A regularidade, nesse caso, virou armadilha. O invicto terminou atrás na estatística mais importante: pontos.
Rangers 2010/11: supremacia escocesa sem perder, mas na Copa
Na campanha da Copa da Liga Escocesa, o Rangers avançou etapa por etapa até a final sem sofrer sequer um gol — e sem derrotas. Mas perdeu a decisão para o Celtic, nos pênaltis, após empate no tempo regulamentar. A campanha inteira sem derrotas não teve o desfecho esperado.
Embora a maioria dos casos envolva campeonatos de pontos corridos, também em disputas eliminatórias a invencibilidade pode ser cruelmente insuficiente. O caso do Rangers mostra que, em mata-mata, não perder também pode não bastar.
Reflexões sobre a invencibilidade no futebol
Permanecer invicto exige solidez defensiva, concentração e consistência. Mas, na maioria das ligas do mundo, o que importa é vencer. Um time pode empatar mais da metade de seus jogos e sair atrás na tabela frente a um adversário com mais derrotas, mas mais triunfos.
Esses exemplos comprovam que a história não guarda espaço para invencibilidades inócuas. O que marca o nome dos clubes no alto das tábuas e das taças são os números que importam: vitórias, gols e, claro, títulos.
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