O Campeonato Paraibano de Futebol, atualmente denominado Campeonato Paraibano Unipê por razões de patrocínio, é mais que uma simples competição, é um símbolo da cultura e paixão esportiva da Paraíba. Ao longo de mais de um século, o torneio tem sido palco de rivalidades acirradas e momentos memoráveis, que se entrelaçam com a história do estado.
Desde os primórdios amadores até a profissionalização, o campeonato evoluiu, expandindo-se do litoral ao sertão, sempre promovendo novos talentos e definindo os representantes paraibanos em competições nacionais. Além disso, essa trajetória centenária não apenas moldou o cenário esportivo local, como também refletiu as transformações sociais e culturais da Paraíba, construindo um legado que transcende as quatro linhas do campo.
O que você vai ler neste artigo
Primeiros passos do futebol na Paraíba
A história do futebol paraibano remonta a 1908, quando José Eugênio Soares, um estudante que trouxera o esporte do Rio de Janeiro, fundou o Club de Foot Ball Parahyba. Desse modo, a primeira partida oficial, entre as equipes "Norte" e "Sul" do clube, marcou o início de uma paixão que cresceria exponencialmente.
No entanto, antes mesmo dessa partida inaugural, a presença de funcionários da ferrovia Great Western já indicava um conhecimento prévio do futebol no estado, principalmente entre as famílias mais abastadas.
Frederico Voldkes, um funcionário da Great Western, foi crucial para a definição das regras do jogo, enquanto o Parahyba Foot Ball Club se consagrava campeão do primeiro torneio, marcando seu nome como a primeira equipe a conquistar um título estadual.
Contudo, é importante notar que o futebol daquela época era praticado principalmente pelas elites, refletindo um símbolo de modernidade incentivado em colégios e clubes sociais. Além disso, o esporte prezava mais a técnica individual do que o trabalho em equipe, e o campeonato consistia em uma série de jogos nos quais o clube com mais vitórias era aclamado campeão ao final da temporada.
A Liga Parahybana e os primeiros campeonatos oficiais
Em 1914, a Liga Parahybana de Foot Ball foi fundada, com o objetivo de orientar e disciplinar os torneios locais, embora não organizasse o campeonato em si. Em 1917, a interdição do campo do Sítio do Coronel Manoel Deodato forçou os praticantes do esporte a buscar novos locais, como o campo do Sítio Roger e o da Estrada dos Macacos. Foi nesse contexto que os estudantes do Colégio Pio X conquistaram o torneio daquele ano, considerado o primeiro oficial por alguns registros.
No entanto, a insatisfação com a falta de modernização do torneio levou à criação da Liga Desportiva Parahybana (LDP) em 1919, filiada à Confederação Brasileira de Desportos (CBD) em 1925. A LDP visava organizar e promover o campeonato de forma oficial, o que aconteceu até a edição de 1940. O primeiro jogo sob a supervisão da LDP ocorreu em 25 de maio de 1919, entre Sport Club Cabo Branco e Royal.
Naquele mesmo ano, o Palmeiras Sport Club conquistou o título da primeira edição oficial do Campeonato Paraibano, enquanto o Sport Club Cabo Branco sagrou-se campeão no ano seguinte e o Palmeiras Sport Club conquistou o bicampeonato em 1921.
O domínio do Trio de Ferro e a profissionalização
Em 1922, o Campeonato Paraibano cedeu espaço ao Torneio Centenário da Independência do Brasil, vencido pelo Pytaguares Foot Ball Club, um título por vezes considerado estadual, embora não haja consenso. A partir de 1923, América Foot Club, Palmeiras SC e SC Cabo Branco dominaram as edições seguintes do campeonato, dividindo entre si os títulos até 1929.
Após um hiato em 1930 devido à Revolução, o campeonato retornou em 1931, com SC Cabo Branco e Palmeiras SC revezando-se na taça até 1935. O Botafogo de João Pessoa estreou no campeonato em 1934 e logo se firmou como o maior vencedor do torneio, conquistando o vice-campeonato em 1935 e três títulos consecutivos em 1936, 1937 e 1938.
Expansão para o interior
O futebol se espalhou rapidamente pelo estado, chegando a Campina Grande em 1910 e ao Sertão na década de 1920. Clubes como Umbuzeiro Foot Ball Club, Sabugy Foot Ball Club, Vila Branca Sport Club e Treze Futebol Clube foram fundados no interior, com o Treze sendo o primeiro clube de fora da Grande João Pessoa a participar do Campeonato.
Em 1939, o Auto Esporte-PB conquistou seu primeiro título, seguido pelo Treze de Campina Grande em 1940, a primeira conquista de um time do interior. No entanto, o Decreto-Lei n.° 3.199 de 1941 extinguiu as ligas estaduais, incluindo a LDP, instituindo as federações subordinadas ao Conselho Nacional de Desportos, visando modernizar o futebol nacional.
A Era da Federação Paraibana de Futebol
A Federação Desportiva Paraibana foi criada em 1941, organizando o Campeonato Paraibano até 1946. O Treze conquistou o bicampeonato em 1941, mas divergências com o Botafogo levaram ao seu afastamento do campeonato por dois anos. Atletas do Botafogo disputaram o campeonato pelo Astréa em 1942 e 1943, conquistando o bicampeonato.
Em 1944 e 1945, os atletas voltaram a jogar pelo Botafogo, conquistando mais um bicampeonato. O Felipeia conquistou seu único título em 1946. Problemas de gestão levaram à desfiliação da Federação Desportiva Paraibana junto à Confederação Brasileira de Desportos em 1946.
Criação da FPF e o domínio do Botafogo
A Federação Paraibana de Futebol (FPF) foi criada em 24 de abril de 1947, passando a organizar o campeonato. O Botafogo conquistou seu segundo tricampeonato entre 1947 e 1949, com o Treze levando a melhor em 1950. A organização dos torneios continuou comprometida, levando ao cancelamento da temporada de 1951.
O Botafogo rivalizou com o Auto Esporte nas finais entre 1952 e 1959, conquistando um tricampeonato (1953–1955) e um título em 1957. O Auto Esporte conquistou os títulos de 1956 e 1958. Em 1959, o Estrela do Mar levantou a taça estadual pela única vez.
A profissionalização e o hexacampeonato do Campinense
O ano de 1960 marcou o início da profissionalização do futebol paraibano, com a criação da Divisão Extra de Profissionais (futuro Campeonato Paraibano da Primeira Divisão) e da Divisão Mista (que promovia o acesso à Primeira Divisão). O Campinense Clube estreou no Campeonato e garantiu o título de 1960, iniciando um hexacampeonato consecutivo (1960-1965), um feito único na história do torneio.
A polêmica de 1975 e a hegemonia do Trio de Ferro
A edição de 1975 foi marcada por uma polêmica envolvendo Campinense, Botafogo e Treze. O Campinense sofreu uma punição e recorreu ao STJD, travando a continuidade do campeonato. A Federação Paraibana homologou Botafogo e Treze como campeões, mas o Campinense venceu a disputa judicial, recuperando os pontos perdidos.
Em 2012, o STJD deu ganho de causa ao Campinense, mas o clube não conseguiu o reconhecimento do título até hoje. O hexacampeonato do Campinense e o sucesso de Botafogo e Treze consolidaram o apelido de "Trio de Ferro" do futebol paraibano. Entre 1960 e 1984, apenas os três clubes conquistaram o título de campeão paraibano.
Interiorização e novos campeões
No início da década de 1990, Rosilene Gomes, então presidente da Federação Paraibana de Futebol, idealizou a interiorização do futebol no estado, criando a Copa Integração, um campeonato com equipes amadoras e profissionais. O sucesso do torneio levou à criação do Campeonato Paraibano de Futebol da Segunda Divisão em 1992.
Em 1994, o Sousa Esporte Clube tornou-se o primeiro clube do sertão a sagrar-se campeão paraibano. Nos anos seguintes, Santa Cruz de Santa Rita (1995 e 1996) e Confiança de Sapé (1997) também conquistaram o título.
O retorno do Trio de Ferro e a hegemonia recente
Após o sucesso de clubes do interior, Botafogo e Treze voltaram a dominar o campeonato, conquistando bicampeonatos em 1998–1999 e 2000–2001, respectivamente. Em 1998, o Botafogo bateu o recorde de público do futebol paraibano, com 44 268 pessoas presentes no Estádio José Américo de Almeida Filho.
No entanto, clubes sertanejos como Atlético Cajazeirense (2002) e Nacional de Patos (2007) voltaram a surpreender e conquistar o título. Nos anos 2010, o Trio de Ferro retomou a hegemonia, conquistando todos os títulos estaduais entre 2010 e 2023.
Em 2021, a Federação Paraibana organizou a primeira edição da Terceira Divisão estadual. Em 2022, as finais entre Campinense e Botafogo marcaram o uso do árbitro de vídeo (AV) pela primeira vez no campeonato.
Campeões e artilheiros
Ao longo de sua história, o Campeonato Paraibano teve diversos campeões e artilheiros memoráveis. Botafogo, Campinense e Treze lideram o ranking de títulos, enquanto Dentinho (Botafogo) detém o recorde de maior artilharia em uma única edição (42 gols em 1983).
Adelino (Treze) entrou para a história ao marcar oito gols em uma única partida em 1979, igualando a marca de Pelé. Delgado foi o jogador que mais vezes foi o principal goleador do campeonato (quatro vezes), enquanto Edmundo foi o único a ser artilheiro por três vezes em três clubes diferentes.
Transmissão e alcance
Ao longo dos anos, diversas redes de rádio e televisão transmitiram o Campeonato Paraibano, levando a emoção do torneio aos lares de todo o estado. A primeira transmissão em TV aberta ocorreu em 1980, com a final entre Campinense e Botafogo.
Atualmente, as afiliadas da TV Globo na Paraíba (TV Paraíba e TV Cabo Branco) transmitem um jogo por rodada, enquanto os principais programas esportivos do estado dão grande visibilidade ao campeonato.
Formato e classificação
O Campeonato Paraibano é disputado por 10 clubes, que se enfrentam em turno único na primeira fase. Os quatro melhores classificados avançam para as semifinais, enquanto os dois últimos são rebaixados. As semifinais e finais são disputadas em jogos de ida e volta, com o mando de campo final para a equipe com melhor pontuação na primeira fase.
O campeão e o vice-campeão garantem vagas na Série D do Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil, enquanto o campeão também garante vaga na fase de grupos da Copa do Nordeste.
Legado e futuro
O Campeonato Paraibano de Futebol é muito mais do que uma simples competição esportiva. É um patrimônio cultural da Paraíba, que move paixões, revela talentos e promove a integração entre as diversas regiões do estado.
Apesar dos desafios e dificuldades, o campeonato segue vivo e pulsante, buscando se modernizar e se fortalecer para continuar a escrever sua história centenária, sempre com a paixão e o orgulho do povo paraibano.
Perguntas frequentes
O Campeonato Paraibano teve sua primeira edição amadora em 1908, com a fundação do Club de Foot Ball Parahyba. A competição se transformou oficialmente em campeonato estadual possivelmente a partir de 1919, embora alguns afirmem que 1917 foi o primeiro ano oficial. A partir de 1938, equipes do interior do estado começaram a participar, e em 1960 o campeonato se profissionalizou.
O Botafogo de João Pessoa é o maior campeão, com 30 títulos, seguido pelo Campinense, com 22, e o Treze, com 17. Juntos, esses três clubes são conhecidos como o “Trio de Ferro” da Paraíba, devido às suas histórias de conquistas e rivalidades.
O Campeonato Paraibano qualifica clubes para torneios regionais e nacionais sob a tutela da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Em 2024, a Paraíba tem direito a três vagas na Copa do Nordeste, duas na Copa do Brasil e duas na Série D do Campeonato Brasileiro, além de uma vaga garantida ao Botafogo-PB na Série C.
O Campeonato Paraibano registra 21 partidas com placares de 10 ou mais gols de diferença. A maior goleada foi Cabo Branco 20–0 Miramar, em 1932. Outras goleadas notáveis incluem Botafogo-PB 16–1 João Pessoa Sport Club (1941) e Sport Club João Pessoa 0–15 Treze (1941).